quinta-feira, 7 de julho de 2016

Todas as Filosofias

Esta é a obra de referência rápida mais abrangente e precisa da actualidade. Tem 2 648 entradas e mais de 275 mil palavras, incluindo todas as filosofias (indianas, chinesas, islâmicas e judaicas); presta ainda uma atenção especial à filosofia feminista e aos temas menos técnicos da filosofia (como o sexo, a apatia, o riso, as cócegas e o sentido da vida), e consegue abranger desde os mais antigos temas dos Vedas (redigidos há cerca de três mil anos) até à mais recente terminologia técnica que anima a filosofia contemporânea.
O leitor encontra também vários tópicos dos mais diversos domínios científicos relevantes para o estudo da filosofia. Encontramos assim um vasto conjunto de entradas sobre temas da matemática, linguística, física, biologia e inteligência artificial, para além do Direito, teoria da decisão, economia e sociologia, sem esquecer a teologia e a arte.
A tudo isto juntam-se mais de 500 entradas biográficas sobre os mais variados filósofos e estudiosos que de alguma forma são filosoficamente importantes, desde os pré socráticos menos referidos até filósofos contemporâneos como Frege, Russell, Carnap, Wittgenstein, Quine, Goodman, Rawls, Kripke, etc., sem esquecer figuras mais conhecidas, como Derrida, Foucault, Rorty, Heidegger, Simone de Beauvoir, etc.
Informativo para o estudante, o Dicionário de Filosofia é também valioso para o especialista, pois procura sempre indicar os tópicos correntemente discutidos e os pontos fracos das diferentes teorias e argumentos filosóficos. A filosofia surge assim como uma actividade que está em curso, e não como uma tarefa da qual só resta fazer a sua história. O humor inteligente com que alguns artigos foram redigidos faz este Dicionário de Filosofia ser simultaneamente instrutivo e rigoroso, mas também uma leitura amena para quem gosta de folhear e ler ao acaso. Um sistema simples mas eficaz de referências cruzadas faz com que seja difícil deixar a leitura, uma vez que somos conduzidos de conceito em conceito, numa excitante aventura de descoberta e enriquecimento cultural.
Com o objectivo último de assegurar a qualidade científica da edição portuguesa, reuni 5 tradutores especializados, com os quais me reuni semanalmente ao longo de mais de 6 meses. As traduções foram ainda revistas pelos mais reputados especialistas portugueses nas diversas áreas cobertas pelo dicionário.
Procurei fazer desta edição em português um auxiliar para os leitores de língua portuguesa, em particular os estudantes. Como a generalidade da bibliografia filosófica existente é em língua inglesa, e não portuguesa, este dicionário seria de pouco valor sem umglossário inglês-português, que por isso compilei e incluí, com a autorização do autor. O estudante que se depara com a expressão “principle of acquaintance”, sem saber em particular como traduzir “acquaintance”, teria dificuldade em usar o dicionário sem o glossário.
O dicionário foi publicado simultaneamente em Portugal e no Brasil e a sua tradução distinguida com uma menção honrosa da União Latina.

Sobre o autor

Simon Blackburn é Professor de Filosofia na Universidade de Cambridge e um dos mais reputados filósofos contemporâneos. Foi director da Mind, a mais prestigiada revista internacional de filosofia, de 1984 a 1990, e Fellow e Tutor do Pembroke College de Oxford. É autor de Spreading the Word (1984), Essays in Quasi-Realism (1993) e Ruling Passions: A Theory of Practical Reasoning (1998), além do Dicionário de Filosofia (1994), publicado na Filosofia Aberta, e mais recentemente de Pense (1999), publicado na mesma colecção, eBeing Good (2001), uma brilhante introdução à ética. As teorias defendidas por Simon Blackburn são tema corrente de discussão na bibliografia especializada, sobretudo a sua teoria da razão prática e as suas posições quase-realistas em ética, epistemologia e metafísica. Apesar da sua estatura como filósofo — ou talvez por isso mesmo — interessa-se fortemente pela divulgação da filosofia a um público mais vasto: nas suas próprias palavras “A filosofia deve descer à rua” (entrevista ao Público).

Excerto

.A Filosofia da História é a reflexão sobre a natureza da história ou sobre o pensamento histórico. A expressão foi usada no século XVIII (por exemplo, por Voltaire) para referir o pensamento histórico crítico, que se opõe à mera colecção e repetição de histórias sobre o passado. Em Hegel, a expressão adquire o significado de história universal ou mundial. No Iluminismo, acreditava-se que a idade da superstição e da barbárie estava a ser progressivamente substituída pela ciência, pela razão e pela compreensão, atribuindo-se à história uma linha evolutiva de carácter moral. Sob a influência de Herder, Kant levou esta ideia mais longe, de tal modo que a filosofia da história se converteu na procura de um sistema grandioso sobre o desdobramento da evolução da natureza humana, testemunhado em fases sucessivas (o progresso da racionalidade ou do Espírito). Esta filosofia da história essencialmente especulativa encontrou um complemento extra-kantiano em Fichte, para quem a associação da mudança temporal com a implicação lógica introduz a ideia de que os próprios conceitos são o instrumento dinâmico da mudança histórica. Esta ideia só é imediatamente inteligível no quadro do idealismo absoluto, onde o mundo da natureza e do pensamento acabam por identificar-se. A obra de Herder, Kant, Fichte e Schelling foi sintetizada por Hegel: a história tem um enredo. Este consiste no desenvolvimento moral do homem, concebido como algo que é equivalente à liberdade no Estado; esta liberdade, por sua vez, consiste no desenvolvimento da autoconsciência do espírito, um processo de desenvolvimento lógico ou intelectual onde sucessivamente se atingem e superam vários momentos necessários na vida de um conceito. O método de Hegel atinge o seu melhor quando o assunto é a história das ideias, e quando a evolução do pensamento avança a par e passo com as oposições lógicas, e com a sua resolução apresentada pelos diversos sistemas de pensamento.
Com Marx e Engels emerge um tipo de história bastante diferente, baseada na estrutura progressiva de Hegel, mas que remete a realização do objectivo da história para um futuro onde surgirão as condições políticas para a liberdade, sendo assim os factores políticos e económicos, e não a “razão”, o motor da história. Embora se tenha continuado a escrever história especulativa generalista (O Declínio do Ocidente, de Spengler, 1918, é um exemplo tardio notável), no final do século XIX a especulação generalista desse tipo foi suplantada por um interesse mais crítico pela natureza da compreensão histórica e, em particular, pela comparação entre os métodos das ciências naturais e os do historiador. Para autores como Windelband e Dilthey é importante mostrar que, por um lado, as ciências humanas como a história são objectivas e legítimas, mas que, por outro lado, estas diferem de algum modo da investigação do cientista. Já que o seu assunto é o pensamento e as acções dos seres humanos do passado, é necessária uma capacidade para reviver esse pensamento do passado, conhecendo as deliberações dos agentes do passado como se pertencessem ao próprio historiador. Collingwood foi o autor britânico mais influente nesta área; A Ideia de História (1946, trad. 1972) contém uma ampla defesa da abordagem da verstehen. O problema da forma das explicações históricas, e o facto de as leis gerais ou não terem qualquer lugar, ou não ocuparem um lugar importante nas ciências humanas, são também proeminentes no pensamento sobre a natureza distinta da nossa compreensão histórica dos outros e de nós mesmos.

Dicionário de Filosofia
de Simon Blackburn
Coordenação da edição portuguesa de Desidério Murcho
Tradução de Desidério Murcho, Pedro Galvão, Ana Cristina Domingues, Pedro Santos, Clara Joana Martins, António Horta Branco
Revisão Científica de António Franco Alexandre, João Branquinho, Fernando Ferreira, Ana Isabel Simões, M. S. Lourenço, José Trindade, Santos, Maria Leonor Xavier
Gradiva, Maio 1997, 487 pp.